Não precisa de uma ideia para empreender

Inovação a partir da educação

por Francisco Santolo

Pensar em algo inovador nos conecta diretamente ao mundo das ideias. O primeiro passo é compreender que a inovação vai muito além disso. Que nenhuma ideia resulta inovadora se não for acompanhada pela execução. Que tudo aquilo que não conseguimos plasmar não trará os efeitos benéficos da verdadeira inovação.

Inovação a partir da educação

Por sua vez, pensar em empreender nos conecta com empresas, investimentos, funcionários, escritórios, dinheiro. O que se perde de vista, talvez o mais fundamental, é que empreender, na essência, não é mais que a arte do fazer possível. É abandonar o conhecido e tomar um caminho inexplorado até o nosso sonho, visão e propósito. É pular para o vazio da incerteza, sustentar o medo e nos animar à realização do que desejamos.

A educação formal em negócios continua estando muito ligada ao mundo das ideias, os modelos e os conceitos, com marcado afastamento da prática. Inclusive estando contra às aprendizagens teóricas mais recentes se abraça ao planejamento, substituindo hipóteses – ou adivinhações – com verdades, modelando um mundo racional, explicável, previsível. Centra-se na parte intelectual e deixa de lado dois componentes principais do empreender, o relacional e o emocional. Nessa carência de execução e experiência, as aprendizagens se confundem e o interesse dos alunos se dissipa.

O primeiro passo para inovar na educação é abandonar o saber absoluto. Entender ao educador como facilitador, em uma posição horizontal, de humildade, de aprendizagem continua, com a compreensão de que qualquer ser humano pode nos ensinar desde a sua diferença. Esta prática requer muito mais preparo e segurança que a tradicional. A condição de possibilidade para a inovação, surge de transmitir aos alunos com potência a visão de que estas ferramentas os aproximarão aos seus sonhos, desejos, e eventualmente ao seu propósito. Para que o processo seja efetivo, devem experimentá-las na prática, aplicadas às iniciativas vinculadas aos seus interesses.

O avanço em metodologias empreendedoras e de inovação foi muito relevante e as melhores instituições de ensino de negócios do mundo ainda não se atualizaram. Abandonar o plano dá lugar à formulação de hipóteses, à experimentação rápida, criativa e de baixo custo. Os resultados definem então as decisões por sobre a hierarquia. O jogo, desterrado da infância toma relevância novamente. A colaboração substitui à concorrência e permite destacar, celebrar e aproveitar as virtudes do outro na sua diversidade toda.

Empreender é nos confrontar com nós mesmos, às crenças que nos limitam e às vozes dos outros. É experimentar uma e outra vez. É cair e nos levantar de novo. É transformar, abraçar a convicção de que o mundo pode ser diferente, para mim e para os outros. Não é uma arte solitária, nada surge da nossa ação única como indivíduos, todos nossos sucessos envolvem a participação dos outros. O processo de formação deve incorporar estas aprendizagens.

Empreender é fazer possível e nesse sentido todos somos empreendedores. Com convicção sustento que o mundo que vem encontrará um indivíduo mais poderoso, com capacidade de impacto através das comunidades nas que faça parte. Já não será um mundo hierárquico de corporações e governos. Será um mundo de autoridade moral e influência legítima. E o resultado dependerá de nós mesmos, das novas gerações, formadas no abstrato das ideias, na verdade do saber, ou na capacidade do fazer possível.

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