Não precisa de uma ideia para empreender

MBA: Um antes e um depois na carreira de Francisco Santolo

Apertura
Novembro 2017

Francisco Santolo conta qual foi sua trajetória profissional e como o MBA marcou essa trajetória no ecossistema empreendedor. Com 26 anos, Francisco exercia o cargo de Gerente de Marketing Regional da Natura e realizou um mestrado em administração na Universidade do CEMA. Do MBA aos dias de hoje, relata, as oportunidades foram sucedendo-se uma atrás da outra e o levaram a focar-se no ecossistema empreendedor já que hoje trabalha como CEO & Founder da Scalabl.

Por Yesica Brumec

Qual foi a trajetória de cinco profissionais que cursaram seus mestrados no país há cinco anos? O que os deixou o programa de mestrado e como evoluíram em suas expectativas de carreira? A história de Sergio Baravalle, graduado da UTDT: “A riqueza do MBA está em aprender a se sentir cômodo nas incertezas”, relata, e destaca que a Di Tella “promove a comunhão entre seus integrantes”.

Se oferece uma promoção automática no trabalho, se o conecta com o mundo, se é necessário para crescer em uma multinacional, se melhora as habilidades como profissionais e até como pessoas ou se é apenas mais um curso. Cinco graduados de diferentes universidades locais que concluíram um Mestrado em Administração de Empresas em 2012 contam como o seu trabalho, a sua visão, os seus projetos e as suas perspectivas de emprego mudaram desde então. O que o MBA os deixou, cinco anos depois.

Em 2011, Florencia Vieta entrou em contato com a IAE, a escola de negócios da Universidad Austral, para descobrir o MBA de meio-período patrocinado pela DuPont, a empresa na qual trabalhava como analista estratégico na época. Motivada pelo desejo de voltar a estudar pelas recomendações dos colegas, mas, sobretudo, pela possibilidade de realizar um intercâmbio no exterior, Vieta logo reorganizou suas prioridades e largou o emprego para buscar o MBA em tempo integral, financiando-o por conta própria. “Parei de aproveitar a experiência de estar 100% comprometida. Quando vi que o IAE dava a possibilidade de fazer uma experiência na London Business School, não tinha mais dúvidas”, destaca a atual líder em soluções de financiamento da General Electric Healthcare para Argentina, Chile, Bolívia e Uruguai.

Vieta estudou por um ano e meio na Inglaterra, uma experiência que enfatiza e recomenda fortemente para aprimorar um dos principais pontos que o mestrado fornece: “O networking é o mais rico de um MBA, somado à experiência em si, especialmente em um contexto internacional. Você está em um círculo de contato com ex-alunos e convidados de outras universidades”, comenta e exemplifica que, hoje, ela tem contato profissional com colegas que conheceu no intercâmbio. Ao retornar à Argentina, Vieta não demorou muito para se mudar para o mercado de trabalho; primeiro, com sua própria startup, e depois foi contratada pela GE Human Resources, onde trabalha atualmente. “Ter um MBA era um pré-requisito para entrar na posição em que estou agora”, ela aponta.

Outra contribuição que hoje faz a diferença no seu trabalho não é tanto o acúmulo de conhecimentos, pois seu diploma básico era em administração de empresas (Universidad de La Plata), mas Vieta enfatiza que sim é a metodologia que aprendeu durante o MBA. “O método de caso me deu outra dinâmica e perspectiva ao lidar com situações. Meu trabalho hoje é analisar os negócios e os porquês e o MBA me ensinou a fazer perguntas, prestar atenção nos detalhes que de outra forma eu não teria implementado”, afirma.

Mudança de perspectiva 

Advogada (UBA) e atual Diretora da Legal & Government Relations da MercadoLivre, Gabriela Colombo já tinha um posto de gerente na mesma empresa quando começou a cursar o MBA no formato de meio-período da Universidad de San Andrés. “Quando cheguei à gerência, senti que me faltavam ferramentas que não tinha recebido na minha formação de grado e pós-grado. Além das incumbências próprias da minha profissão, foram agregadas outras, como a gestão de pessoas, de projetos e de processos”, comenta Colombo.

Selecionada pela MercadoLivre para obter um financiamento de até 75 por cento do programa, Colombo cursou durante dois anos o mestrado, onde foi mãe no meio do curso e continuou trabalhando. “A combinação de teoria e prática da San Andrés se ajustava ao meu perfil. Ir direto ao método do caso não me servia. Havia outros conhecimentos que algumas universidades assumem que você já sabe e que eu não tinha, por isso valorizei esse mix de teoria e caso desafio”, afirma.

Sobre a importância do MBA, Colombo o define como “um mapa do tesouro” no âmbito empresarial e ressalta o enfoque da gestão baseado nas pessoas. “Cheguei buscando ferramentas para gerir e levei muito mais do que isso; o MBA mudou o meu mindset, a minha perspectiva sobre como exercia minha profissão. Me deu um dicionário para entender em qual idioma falam os que trabalham em finanças e dos que são do ramo da tecnologia, para compreender o que os motiva e por que em um projeto uns tendem a ir para um lado enquanto os outros tendem a ir para o outro”.

Da vontade de ser advogada penal ao iniciar sua carreira acadêmica até hoje, onde exerce um papel corporativo com funções transversais em toda América Latina no MercadoLivre, Colombo afirma que para ela foi fundamental a capacidade de se adaptar as possibilidades que iam surgindo, um dado que potencializou seu mestrado.

“A advocacia está em um momento de mudança de paradigma pelo impacto da tecnologia e meu foco está na inovação da prática em âmbito empresarial”, aponta. “Você adquire uma visão de gestão da engenharia, dos custos, como isso impacta no que você faz dentro da empresa, como vai impactar positiva ou negativamente na sua forma de trabalhar em outra área. Tudo isso é o MBA”, afirma.

No entanto, Colombo adverte que esse tipo de mestrado não é algo que se possa estudar em qualquer momento da carreira, mas você precisa estar pronto profissionalmente para ele e então realizá-lo; “quando esteja assumindo funções que excedam o meramente técnico”. E completa: “Fazê-lo antes é desperdiçar tempo e dinheiro, e realmente tem mais valor quando você é um profissional com solidez na sua área em primeiro lugar e se sua intenção é buscar ampliar sua prática profissional. Nesse caso, o MBA é quase indispensável para a trajetória profissional”.

Um biólogo no Estado

O imaginário coletivo situaria um biólogo molecular utilizando um jaleco dentro de um laboratório. No caso de Sérgio Baravalle, o destino o levou por uma estrada bem diferente. A partir do seu trabalho na área de comercio de produtos de biologia molecular em uma pyme, Baravalle se inquietou por transcender o meramente técnico de sua área e, ao contrário de fazer uma especialização, começou a buscar ferramentas para ver o bosque ao invés da árvore.

“Me faltava preparação em habilidades sociais que trazia da minha carreira base. Dentro da empresa vi que era muito pouco o que tinha de background e que se quisesse crescer necessitaria aprender, sobretudo, estratégias e gerenciamento de negócios” conta Baravalle.

A partir de conhecidos e colegas que realizaram o MBA na Universidad Di Tella e com referentes de perfil semelhante ao seu como o é Estanislao Bachrach, Baravalle decidiu financiar os estudos e começar a cursar no programa de meio-período.

Nesse momento, Baravalle também participava em um projeto conjunto entre Argentina e Estados Unidos para desenvolver um banco de tumores, para o qual viu o momento como útil para ampliar o conhecimento da organização empresarial.

Do seu ponto de vista, a riqueza do MBA está em “aprender a se sentir cômodo nas incertezas”.

“Me expor ao desconhecimento em quase todas as disciplinas das quais cursei me deu uma idéia da ignorância que, ao mesmo tempo, gerava uma tensão que solucionei apoiando-me no grupo”, relata e destaca que a Di Tella “promove a comunhão entre seus integrantes”.

Em pouco tempo, a tese sobre energia renovável que realizou junto a um colega do curso lhe serviu de trampolim para ganhar uma bolsa Fullbright e estudar engenharia agrônoma e Bio-sistemas na Washington State University nos Estados Unidos.

Durante o processo de elaboração de sua nova tese, baseada em desenvolvimento sustentável sobre a utilização de resíduos agrícolas – pensado para o estado de San Juan (Argentina) – Baravalle ganhou outra bolsa, agora para realizar um pós-grado em Supply Chain Management na Massachussetts Institute of Tecnology (MIT).

A partir deste projeto baseado em “Bioequidade”, Baravalle recebeu um reconhecimento do governo alemão como um dos 25 jovens com maior potencial a nível mundial no desenvolvimento sustentável em 2014, conta.

Baravalle atualmente cursa o Mestrado em Energias Renováveis na Universidad Tecnológica Nacional e trabalha no Ministério de Desenvolvimento Social, onde aplica teorias de desenvolvimento de triplo impacto, mediante a geração de uma área de “cadeias de valor inclusivas”.

“O MBA me trouxe uma transversalidade que nunca teria se estivesse focado numa carreira tão específica como a Biologia Molecular. Me deu uma visão estratégica de negócios e ferramentas para saltar de uma disciplina a outra que hoje utilizo no meu trabalho”, destaca.

Com só 26 anos, Francisco Santolo foi ascendido de coordenador a gerente de marketing na Natura. Em busca de mais, este bacharel em economia, formado na Universidad del CEMA aproveitou que sua empresa podia financiar parte do curso e voltou a eleger sua casa de estudos para realizar o mestrado em Administração em modo de meio-período.

“na formação de graduação, você tem os conceitos sem tê-los vivenciado. O MBA realizado com mais experiência, vê os temas com mais profundidade, maturidade e prioriza o que lhe interessa”, assegura Santolo e ressalta que “a proximidade ao conhecimento empreendedor” é ponto chave na sua realidade atual.

CEO de Scalabl, uma aceleradora de Startups que já conta com mais de 100 empresas e 240 empreendedores, Santolo hoje se encarrega da expansão global de sua companhia, com o objetivo de mercado no México, Emirados Árabes e na Índia.

“Ajudamos a qualquer empreendedor, seja um diretor regional de uma multinacional ou uma empregada doméstica; lhes damos um curso de dois meses com forma prática em uma empresa real e saem com a empresa em funcionamento”, conta Santolo.

Do MBA a este ponto, diz, as oportunidades se sucederam uma atrás da outra e o levaram a focar-se no ecossistema empreendedor. Hoje, está decidido a “levar este novo modelo de desenvolvimento de empreendedorismo a todo o mundo”.

Terminado o mestrado, Santolo realizou programas de gerência geral na Kellogg School of Management e depois se formou em Entrepreneurship na Stanford. Em paralelo, começou a ajudar a empreendedores de forma gratuita.

“Assim se foi dando que muitos deles me presentearam parte de suas empresas e com isso criei coragem para empreender em tempo integral”, conta Santolo, cuja trajetória o levou depois à companhia brasileira BRF, onde foi enviado por mais de um ano a Dubai como gerente de Marketing da região.

Atualmente, Santolo está cursando um programa de Gerência Geral em Harvard, junto com 140 líderes mundiais e levanta a hipótese que, no passado, existe algo que teria aproveitado melhor de sua experiência durante o MBA.

“Nesse momento não tinha maturidade suficiente para me dar conta de que o mais importante são as relações interpessoais e abrir oportunidades”, levanta a idéia, porém assegura que o mestrado foi “um divisor de águas” na sua profissão.

Sociedade fértil

Atual diretor e sócio da empresa X Project, Carlos Fernando Castro se dedica à gestão em nível macro de projetos de software e trabalha com temas que vão desde a operação bancária às auditorias, prevenção de lavagem de dinheiro e risco operacional.

Para este engenheiro industrial (UBA), a “visão macro da empresa” que lhe foi aportada pelo Mestrado em Direção Estratégica e Tecnológica do ITBA (Instituto Tecnológico de Buenos Aires) foi fundamental para aprender ferramentas de planificação, execução e management”.

“A engenharia te ensina a resolver problemas enfocando em áreas técnicas muito pontuais”, comenta.

Cinco anos atrás, Castro trabalhava como engenheiro de projetos na área comercial da Tecna, empresa dedicada ao mercado de gás e petróleo. Ali foi onde conheceu alguns colegas que o recomendaram a cursar este mestrado em particular.

A partir destas referências, somado ao programa e ao quadro de docentes, Castro chegou ao ITBA na busca por ampliar seu campo de conhecimento sobre a empresa com o foco colocado na tecnologia.

Cursou a modalidade de dois anos, com financiamento próprio no começo e, depois, com apoio financeiro da X Project, com quem introduziu um programa de pymes para o Estado. Castro ressalta que o mestrado teve uma grande influência em sua situação atual de trabalho, não só porque começou a colaborar desde esse momento com a empresa da qual hoje é sócio, se não porque está muito mais entendido da mecânica corporativa geral.

“Hoje desenvolvo continuamente, e isso em finanças, projetos e parte de conhecimento da operação bancária”; explica e ressalta o MBA como ferramenta para “gerir projetos dentro de um marco sistemático, com um ponto em comum em todas as indústrias”.

Segundo sua visão atual de negócios, o projeto de Castro, que almeja no futuro, pode implicar na modificação da sua área de trabalho. “Gostaria de poder desenvolver uma empresa auto suficiente, com equipes de substituição e uma estrutura que dure no tempo”, conclui.

Outros artigos de Francisco Santolo